Confira as evidências do Brasil no ensino médio, de acordo com o Banco Central
Enquanto o sistema financeiro se expande para incluir novos clientes e serviços, países promovem a educação financeira. Mas a literatura carece de estimativas dos efeitos de longo prazo.
O impacto de curto prazo de um programa de educação financeira em escolas do ensino médio, implementado em 2010 e 2011 utilizando um ensaio controlado aleatorizado (RCT – randomized control trial) com cerca de 25 mil alunos de 892 escolas em seis estados brasileiros.
Nesta nova pesquisa, efeitos de longo prazo utilizando dados administrativos para seguir 16 mil desses estudantes por até nove anos, o que permitiu mensurar o efeito do programa no comportamento financeiro e em variáveis relacionadas à ocupação.
O Programa de Educação Financeira nas Escolas
O programa foi desenvolvido e implementado como parte da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). Ele se iniciou com alunos que estavam no segundo semestre do segundo ano do ensino médio e se estendeu até o final do terceiro ano, durante os anos letivos de 2010 e 2011. O conteúdo foi integrado nos programas de matemática, ciências, história e língua portuguesa. A intervenção utilizou livros-texto novos com exercícios interativos em sala de aula e em casa e incluiu atividades como construir um orçamento familiar.
Os livros-texto cobriram nove assuntos:
- Vida familiar cotidiana;
- Vida social;
- Bens pessoais;
- Trabalho;
- Empreendedorismo;
- Grandes projetos;
- Bens públicos;
- Economia do país e
- Economia do mundo.
Resultados de curto prazo
A metade das 892 escolas públicas na amostra da avaliação de impacto foi aleatoriamente selecionada para integrar o grupo de tratamento e receber treinamento para os professores e os livros-texto. As escolas do grupo de controle não receberam o treinamento ou os livros, mas participaram, assim como o outro grupo, das avaliações que ocorreram no início, meio e final do programa.
Esses levantamentos foram utilizados para a avaliação de impacto de curto prazo do programa. Os estudantes se formaram no final do programa, de forma que os alunos do grupo de controle não puderam ser expostos a esse conteúdo de educação financeira.
Os efeitos de curto prazo apresentados, mostraram que o programa aumentou a educação financeira, a intenção de poupar, a poupança auto reportada para compras, assim como administração do dinheiro e utilização de orçamentos.
Por outro lado, o programa levou a um uso significativamente maior de crédito caro (como o de cartões de crédito) e a uma probabilidade maior de atrasar o pagamento desses créditos, possivelmente porque o programa objetivou informar os estudantes sobre esses produtos, mas não desencorajou ativamente seu uso.
Dados administrativos
Utilizando as informações de nome e idade dos alunos, foram recuperados aproximadamente 16 mil CPFs de alunos da amostra original. Esses CPFs foram utilizados para consultar bases de dados administrativas existentes no Banco Central do Brasil (BC).
Os dados incluem posse de conta em instituições financeiras (IFs), mas não saldos, utilização de diversos produtos de crédito, bem como informações sobre emprego formal e posse de empresas do tipo MEI (microempreendedor individual).
Os dados acompanham os alunos desde o final do ensino médio, em 2011, até fevereiro de 2020, imediatamente antes da chegada da pandemia de COVID-19 ao Brasil.
Efeitos de longo prazo
A comparação dos grupos tratamento e controle nessa rica base de dados no contexto experimental conduz a quatro achados principais:
- O ensino médio é uma boa fase para o ensino de educação financeira, dado que a exposição dos alunos ao sistema financeiro cresce enormemente nesse período, o que sugere que ele pode ser considerado como um teachable moment. Durante os dois últimos anos do ensino médio, a posse de conta no Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu 35 p.p. entre todos os alunos, tratados e não tratados. Outros 38 p.p. adquiriram uma conta nos dois anos subsequentes.
Os alunos do grupo tratamento utilizam menos produtos caros de crédito. Eles têm uma probabilidade 6% menor de uso de crédito rotativo ou parcelado com juros associados a cartões (1.4p.p. a menos, comparado com uma frequência de 23% observada no grupo de controle). Também probabilidade 8% menor de uso de cheque especial (0.9 p.p. a menos, comparado com 11% do grupo controle).
O programa reduziu a probabilidade de ter crédito com atrasos em aproximadamente 5% (uma redução de 0,8p.p., comparado a uma frequência de 15% de estudantes com atrasos no grupo de controle).
Há indícios de que o programa levou a uma substituição do emprego formal por empreendedorismo. Oito a nove anos após se formarem no ensino médio, os alunos do grupo tratamento têm uma probabilidade 10% maior de serem microempreendedores individuais (0,69p.p. a mais, sobre 6,9% de alunos no grupo controle que possuem uma empresa desse tipo). Ao mesmo tempo, os alunos do grupo tratamento têm probabilidade 2,4% menor de estarem empregados formalmente (1,2p.p. a menos, sobre 49,5% observados no grupo controle).
Implicações de política
- É possível melhorar o comportamento financeiro de longo prazo dos cidadãos mediante o ensino de educação financeira nas escolas no nível médio.
- Os efeitos de longo prazo podem diferir dos de curto prazo. No curto prazo, os estudantes do grupo tratamento apresentaram maior probabilidade de uso de fontes caras de crédito que os do grupo de controle. No longo prazo essa relação se inverteu. É possível que os alunos tenham feito experiências com esses tipos de crédito no curto prazo e percebido que não era uma decisão financeira adequada. Outra possível explicação é que, enquanto estavam no ensino médio, os valores dos empréstimos que esses alunos conseguiram tomar tenham sido muito baixos, com consequências menores. Por outro lado, na vida adulta, com acesso a valores maiores de crédito, e mais provável que os alunos tenham tomado decisões com maior nível de reflexão, evitando esses tipos de dívida.
- A educação financeira tem o potencial de afetar comportamentos de escolha ocupacional, particularmente se incluir conteúdos sobre trabalho e empreendedorismo.
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Fonte: Banco Central do Brasil